O projeto Indie Brasilis teve início a partir da redação do livro que compila a história da produção de sessenta games nacionais desde Aventuras na Selva, de 1981, até a atualidade.
Como já informado na palestra de lançamento da campanha de financiamento coletivo, apresentada na Retrocon 2025, a seleção dos jogos integrantes da obra a ser impressa foi difícil, em razão da rica produção de games nacionais e da expressiva quantidade de projetos que vêm sendo lançados nos dez últimos anos.
Com a campanha de financiamento já disponibilizada para apoio da comunidade, os criadores da iniciativa, Renato Degiovani e Kao Tokio, estão trazendo a público a divulgação dos conteúdos produzidos para o projeto.
Recentemente, o canal de vídeos do Indie Brasilis liberou o primeiro episódio do bate-papo Dois Bits de Prosa, no qual os autores fizeram um apanhado de três games de cada década presentes no livro escrito – na obra, foram abordas as histórias de cerca de quinze jogos em cada década -, como forma de apresentar aos interessados o contexto dos períodos em que tais jogos foram criados e lançados no mercado brasileiro.
Neste texto, apresentamos brevemente as informações sobre cada um dos games elencados no livro na década de 1980, como uma prévia da obra, para conhecimento do público fã dos jogos criados no país.
Abaixo, você confere as rápidas impressões sobre cada jogo:
Jogos dos Anos 80

Aventuras na Selva
O primeiro jogo produzido no Brasil por um game designer com formação na área.
O adventure em exto de Renato Degiovani, de 1981, transformou-se, em 1983, no Amazônia, publicado em formato de texto na revista Micro Sistemas.

Aeroporto 83
Game que apresentava “um grau de acabamento nunca visto numa publicação, com gráficos que exibiam ação era incessante, mesmo para as limitações do
hardware do computador ZX81, em 1983.

Aventuras na Serra Pelada
Outro jogo narrativo de Renato Degiovani, encomendado pela editoria da revista
Micro Sistemas devido ao grande sucesso de Aventuras na Selva. À época, em 1984, o garimpo em Serra Pelada era um assunto de grande interesse na mídia ‐ uma verdadeira “corrida do ouro”, segundo o criador.

Ciclotron
Produzido pelo jovem Hendy Takeshi Yabiku, autodidata de apenas 15 anos na linguagem BASIC, em 1984, Ciclotron simulava os confrontos das motos de luz Light Cycles, vistas o filme Tron ‐ Uma Odisseia Eletrônica, produção cinematográfica dos estúdios Disney.

Disco Laser
Em 1984, Ademir Carchano criou um game similar a Space Invaders sem qualquer acesso a códigos ou detalhes da produção original ‘na unha’. “Eu não fazia ideia de como se fazer um jogo, me perguntando ‘como é que eu vou fazer [isso]?'”, narrou o criador, produzindo o game para os computadores Ringo R-470.

Cavernas de Marte
Grande projeto do saudoso Divino Carlos Rodrigues Leitão, designer autodidata, em um Timex Sinclair 1000, de 1985. “O Cavernas de Marte foi baseado no Boulder Dash [mas] é uma cópia dele, eu criei uma história, tem um bonequinho que anda escavando, ele não tem armas e é atacado por uns robozinhos”, descreveu o criador

A Lenda da Gávea
Game criado por Luiz Fernandes de Moraes para rodar nos limitados processadores dos PCs TK90X, clone brazuca do ZX Spectrum, em 1985. “Optei por usar um motor gráfico que me garantisse qualidade e rapidez no desenvolvimento do jogo”, contou o desenvolvedor, produzindo um jogo instigante e desafiador.

Em Busca dos Tesouros
Inspirado em Pitfall, EBdT foi produzido pelo jovem Tadeu ‘Curinga’ da Silva em 1986. “À medida em que eu fui fazendo o Em Busca dos Tesouros, ele foi adquirindo proporções imensas […] eu tinha que fazer técnicas de compressão de bytes”, explicou o criador. O game foi resgatado anos após desaparecer do mercado.

Cinco Estrelas
Criação desenvolvida pelo programador Lisandro Granville, em 1987, à época um universitário em Ciências da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Todo trabalho gráfico foi muito bem elaborado, e a impressão que se tem é de que estamos diante de um produto pronto”, analisou Renato Degiovani, em 1987, na revista Micro Sistemas.

Os games cearenses da PISC/GENES
Um grupo de jovens entusiastas 15 e 16 anos de idade, do Ceará, produziu games impressionantes entre 1985 e 1990, como House of Adventure, Castelo
Negro, Heli War e Taça Mágica, primeiro jogo cearense publicado nacionalmente e com enorme sucesso. Lorde das Trevas, última produção dos jovens, jamais foi finalizado.

Games em fita cassete e a Pirataria
A pirataria correu solta nos computadores dos anos 80 e 90, com muitas trocas de arquivos em fitas cassete, disquetes e afins. Vários jogos foram ‘nacionalizados’ por empresas brasileiras sem nenhum conhecimento dos criadores originais. Até mesmo os games nacionais foram pirateados, a exemplo de Angra-I, de Renato Degiovani, para o computador MSX. O jogo sequer estava terminado.
Este breve panorama demonstra a riqueza de nossa produção inicial de jogos, no alvorecer da cultura da informática, a partir dos anos 80. No próximo artigo, apresentaremos os games nacionais criados para os computadores dos anos 90.
Imagem: fotomontagem