Desenvolvedor: Swordtales Studio
Data: 2015
Sistema: PC/PlayStation
Toren é, muito provavelmente, um dos games mais aclamados já produzidos no Brasil, se não pela qualidade irretocável de sua arte e pela narrativa onírica, certamente pelo fato de ter sido fomentado via Lei Rouanet e também um dos primeiros games brasileiros a estrelar na plataforma PlayStation 4.
De fato, muito se falou sobre o investimento financeiro alcançado pelo estúdio gaúcho Swordtales por meio da lei de incentivo e patrocínio à Cultura, mas o mérito de ter sido o primeiro game a conquistar esta condição não pertence a Toren, mas uma criação mais singela, de 2011.
“1º projeto na área de jogos aprovado na lei Rouanet está em busca de patrocínio”, escreveu o especialista em mercado digital Daniel Vekony, no site Marketing e Games, em artigo publicado em fevereiro de 2014, informando que. “o projeto aprovado na Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) prevê a criação da primeira temporada do Game Comix, que terá 12 episódios gratuitos, lançados em outubro deste ano. O Game Comix foi aprovado no Ministério da Cultura no dia 21 de setembro de 2011, tornando-se um projeto cultural apto a receber investimentos através do mecanismo de incentivo fiscal. Esta liberação está publicada na pág. 35 do Diário Oficial da União (DOU)”, descreveu, em detalhes, a informação do site.
1º projeto na área de jogos aprovado na lei Rouanet! Está em busca de patrocínio!
No entanto, embora algumas ações vinculadas à produção do Game Comix tenham sido “realizadas pela fanpage oficial do Facebook ao longo de 2013, […] o projeto nunca se concretizou em um produto final”, informou o site Geração Gamer, sem apresentar maiores detalhes sobre os motivos que levaram ao cancelamento da produção, processo que certamente teria grande impacto no segmento nacional de games naquela época.
Durante a elaboração deste livro, outra iniciativa relacionada ao fomento de criação de jogos foi realizada, em busca dos incentivos da Lei Rouanet, já nos idos de 2004, encaminhada naquele ano pelo jovem Carlos David, do Virtue Studio, de Fortaleza, no Ceará. [KAO encontrar mais informações sobre esta situação]
Independente destas questões de caráter histórico em relação às formas de financiamento de games no Brasil, o jogo digital produzido no Rio Grande do Sul conseguiu vencer os desafios do burocrático incentivo governamental e chegou ao consumidor brasileiro.
“‘Toren’ quase foi cancelado em 2012, comenta o produtor Vitor Severo Leão, um dos fundadores da Swordtales”, conta o texto presente no site Otaku Gattai, desde setembro de 2014. “Quase desistimos do projeto, no início de 2012, quando não tínhamos certeza se conseguiríamos tocar a ideia adiante”, revelou, segundo o site.
“Naquele ano, o estúdio começou a estudar o uso da Lei Rouanet para captar recursos para o game. A lei passou a abranger jogos eletrônicos no final de 2011”, continua a informação online.
“A Sala do Investidor abre seu espaço para um projeto inusitado. É a Sala do investidor da Swordtales, estúdio gaúcho que está desenvolvendo há dois anos o jogo digital Toren, o primeiro no Rio Grande do Sul e um dos primeiros no País habilitado pela Lei Rouanet para captar recursos. O projeto foi apresentado ao Ministério da Cultura e em fevereiro recebeu aprovação para captar cerca de R$ 370 mil em patrocínios e doações de pessoas físicas e jurídicas via renúncia fiscal do Imposto de Renda”, divulgou o site da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul, em junho de 2013, abrindo a captação de recursos para a produção daquele insurgente núcleo de criadores de jogos.
https://www.desenvolvimento.rs.gov.br/sala-do-investidor-busca-patrocinio-para-game
“Um grupo de jovens de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, criou um jogo que estará, em breve, à venda no mundo inteiro com uma versão para Playstation 4. O projeto recebeu menção honrosa no Independent Games Festival (IGF), o principal festival de jogos independentes do mundo, no ano passado, na categoria ‘Excelência em Artes Visuais’. A história de aventura em 3D conta a trajetória de uma menina que cresce tentando sair de uma torre”, afirmou artigo do site G1, ainda em novembro de 2014, antecipando a chegada da produção.
“Daqui a uma semana, Toren será lançado e pode marcar um novo passo da indústria brasileira de games”, registrou notícia do site Zero Hora, no início de maio de 2015. “Fruto de quatro anos de trabalho, Toren conta a história de uma menina que nasce trancada em uma torre. Ainda bebê, ela descobre que tem de ir até o céu, ainda que o motivo só seja esclarecido com o decorrer da trama”, informa a divulgação do site, observando que a produção se inspirou em games clássicos como Shadow of the Colossus e Ico, dois ícones da geração PlayStation 2.
“Nascido como um trabalho de conclusão de curso de uma pós-graduação em jogos eletrônicos, o título ganhou corpo e ambição – e era difícil não sonhar em ver Toren, de corpo e alma verde-e-amarelos, brilhando lá fora e transformando o Brasil não só no país do carnaval, mas também em um lugar de belos games indie”, comunicou o redator Bruno Capelas, para o site IGN Brasil, igualmente em maio de 2015, identificando os primórdios da criação.
“A ousadia da Swordtales em buscar fazer um game de altíssima qualidade visual, com bonitos gráficos em 3D, logo em seu primeiro jogo, também é outro ponto que pesa no balanço final de Toren. Há momentos em que, sim, é possível se deslumbrar facilmente com a beleza do game”, deleita-se o articulista, destacando os pontos altos do projeto, mas não deixa de vaticinar aspectos menos elogiosos do game, afirmar que “em seu primeiro jogo, a Swordtales pode ter sido ambiciosa além do necessário ao dar um passo mais largo do que as pernas”.
https://br.ign.com/toren-swordtales/3985/review/review-toren
“Os maiores destaques de Toren são a narrativa e o visual que elevam o jogo para um status ‘cult’. Diferente de muitos jogos AAA, Toren esbanja um visual diferenciado com um cenário artisticamente bem trabalhado, vivo e bonito com muitos efeitos visuais e elementos do cenário se movendo o tempo todo como a vegetação, os pássaros etc. Os poucos personagens do game também são muito bem desenhados. Neste aspecto Toren é um prato cheio para os olhos”, destacou o redator Victor Cândido, do site especializado em jogos digitais Game Repórter, em julho de 2015, enaltecendo as qualidades visuais do projeto. “Toren possui um visual bonito, mas cai na armadilha de muitos jogos atuais: foram quatro anos de desenvolvimento e ainda assim é notória a falta de polimento final”, avaliou, por fim.
https://www.gamereporter.com.br/toren-estudio-swordtales/
“Sabemos dos problemas do jogo e de nossas limitações. Estamos ouvindo a comunidade e já lançamos nosso primeiro update para Steam e continuaremos a dar suporte ao jogo e a comunidade. Os updates de Steam são mais fáceis de fazer e podem ser feitos com mais agilidade e frequência. Para PS4 nós precisamos fazer pacotes maiores de correções e entrar em um processo mais demorado, pois a Sony é mais exigente com isso”, admitiu Vítor Severo, então produtor na Swordtales, em entrevista concedida a Fábio Silvestrini, do Kapoow!, no final de maio de 2015.
“Além de nós mesmos termos que aprender muitas coisas sozinhos, tivemos que ensinar e treinar muita gente para poderem nos atender. Transpor estes obstáculos faz com que a indústria local evolua como um todo. A meu ver, este será o maior legado do Toren para a indústria de jogos brasileira: o compartilhamento de uma experiência única para muitos profissionais e a contribuição que demos ao mercado em forma de empregos e serviços gerados graças à Lei Rouanet”, ponderou Severo.
https://kapoow.gamehall.com.br/produtor-de-toren-fala-da-repercussao-jogo-confira-entrevista/
Certamente foi muito difícil para um estúdio iniciante, com um time de desenvolvedores enxuto, mas muito empolgado em oferecer a melhor experiência possível com seu game, entender os limites que se apresentavam para o processo de gestão e produção de sua magnum opus para o PS4 e encontrar o ponto de equilíbrio para trabalhar um recorte capaz de primar pela excelência sem gerar frustração no jogador em virtude de outros problemas presentes no game. Como resultado, para além do espetáculo visual proporcionado pela Swordtales, há questões que parecem ter permanecido no produto final, como evidenciam vários artigos publicados após o lançamento oficial.
“Não é à toa que chamavam a gente de louco”, relatou Alessandro Martinello, um dos criadores do estúdio porto-alegrense ao amigo e jornalista Pedro Falcão, cujo artigo foi publicado no site Red Bull, em março de 2017. “Me aconselhavam como se fosse errado tentar fazer um jogo 3D independente com esse escopo”, afirmou Martinello, antes de admitir aos risos: “E pior que essas pessoas estavam certas!”.
https://www.redbull.com/br-pt/a-jornada-de-toren-rumo-ao-playstation-4
“[São] muitas viradas de noite, testando o game para Mac e Linux”, informou o designer Martinello, aos risos, para o coautor Kao Tokio, em rápido bate-papo realizado para o site Drops de Jogos, em abril de 2015, prestes a lançar para os fãs o resultado de tamanha dedicação.
Além da já citada menção honrosa recebida no Independent Games Festival (IGF), Toren angariou um reconhecimento na categoria revelação nacional, no BIG Festival 2015, foi finalista em Art Design nos eventos BGS e indiePub daquele ano e também premiado como “Melhor jogo de PC” no E-Games Awards. “Estamos em pura ansiedade agora para converter esses prêmios e qualidade em vendas”, arrematou na conversa com o então jornalista do Drops de Jogos.
“Queremos ser um exemplo de qualidade e de superação. Ainda dá para contar nos dedos os jogos brasileiros que fazem isso. É uma qualidade que ninguém trouxe antes”, afirmou Alessandro Martinello, sem falsa modéstia, em entrevista concedida ao IGN Brasil no mesmo período de tantos outros artigos, em meados de 2015.
“Ver um título como este no universo dos videogames me traz um profundo sentimento de imersão e de orgulho. Toren prova que é possível criar um game repleto de influências artísticas e filosóficas para contar uma boa história para os jogadores”, avaliou Pedro Zambarda, em análise crítica disponibilizada no site Geração Gamer, completando o vasto panorama de notícias e mídia espontânea conquistado pelo projeto onírico dos jovens desenvolvedores de Porto Alegre.
https://geracaogamer.com/2015/05/12/toren-e-uma-historia-sobre-ciclos-feminilidade-vida-e-morte/
“Concluindo: Se você tem pelo menos um pouco de interesse sobre o futuro do mercado de produção de jogos brasileiro, compre e jogue Toren. Apesar dos problemas, é o único jogo nacional que ousou ser poético e fugir das produções tradicionais tão mais fáceis de fazer”, afirmou Maurício B. Gehling na análise “Toren – um diamante rústico”, do site Devaneios Digitais Interativos, naquele maio de 2015. “Ou seja, é um marco na produção nacional”, postulou o autor.
https://mbg3dmind.wordpress.com/2015/05/26/toren-um-diamante-rstico/
Mesmo com bugs e inconsistências pontuais no game, não há dúvidas que Toren foi um divisor de águas para o design brasileiro de jogos digitais, demonstrando a potência de nossas produções para o mundo.
Ficha Técnica
- Data de lançamento: 2015
- Desenvolvedor: Swordtales Studio
- Publicadora: Versus Evil
- Dispositivo/Console: PC/PlayStation
- Gênero: RPG de ação
- Número de jogadores: 1 jogador