O dia 13 de setembro de 2025 (um semi ensolarado sábado paulista) começou bem. Além do tempo bom, um friozinho que não chegava a incomodar e um destino interessante: STATE Innovation Center onde iria começar o evento Canal 3 Expo. Acompanhado no taxi do hotel por Elio Filho e Larry Ahern, embarcamos para ver os games indies em produção atualmente no Brasil e mais algumas “coisitas”.
Criado por uma comunidade apaixonada, o Canal 3 Expo se consolidou como evento de referência para quem viveu essa tensão entre passar horas no Odyssey ou no Mega Drive; quem jogou fliperama, quem guardou aquele joystick simplão e para quem sabe o que é fazer um loading de uma fita cassete. Para quem nunca viveu isso, o festival se apresenta como uma viagem: ver hardware antigo funcionando, jogos raros, preços de peças e cartuchos, conversar com colecionadores e rever consoles que eram quase míticos.
Para desenvolvedores, pesquisadores ou criadores de jogos indie, esse tipo de evento é mais do que turismo nostálgico: é fonte de inspiração, aula viva de game design antigo, de restrição criativa (quando se tinha poucos bits), de estética sonora, de interface minimalista. Serve também como termômetro: quais obras retrô ainda encantam? Que mecânicas resistem? Que visuais trazem memória afetiva?
Nunca neguei que sou fã incondicional de eventos de games, mas o evento do Canal 3 é algo mais do que apenas games. Ele não é para pessoas de coração fraco porque o choque de saudosismo e lembranças da adolescência atinge níveis acima da escala Richter.

Juntar games antigos com objetos que remontam aos anos dourados, quando não tínhamos boletos pra pagar e a única preocupação era com a diversão, é uma mistura explosiva. Mas não fica só nisso, porque entre os brinquedos e os jogos, o Canal 3 abriu espaço também para as novas gerações de desenvolvedores e é nesse quesito que os jovens devs brilharam. E não falo apenas para os hardwares modernosos, cheio de recursos e potencial para liberar a criatividade. Ressalto com ênfase o pessoal que ainda está produzindo para equipamentos que já nem existem mais oficialmente, como produtos de loja: os consoles antigos (Atari, Mega Drive, Odyssey e vários outros).
Assistir a esses mesmos jovens apresentando seus projetos enche qualquer coração de game designer das antigas de esperança em relação a essas novas gerações, mas nem tudo são flores e a gente precisa destacar alguns pontos aqui na coluna.

Entendo perfeitamente que a novidade, o entusiasmo e a emoção de ter seu trabalho reconhecido nessa nova atividade (fazer jogos), acaba ofuscando a percepção de que o resto do mundo pode não saber exatamente do que você está falando ou fazendo.
Fica claro que estamos falhando em alguns pontos com as novas gerações: cursos de desenvolvimento de games deveriam dar amplo destaque, principalmente à história geral do entretenimento digital e também mostrar aos jovens o que já foi feito por essas bandas – o que deu certo, o que deu errado e, mais que tudo, como bons resultados foram obtidos em mares turbulentos, como é o caso de produzir cultura por aqui. Os eventos também tem um papel a desempenhar nesse quesito, já que fomos “pobres” em guardar o nosso histórico de mercado.

Coisas simples como o nome do jogo em destaque, com o nome do grupo, empresa ou estúdio logo abaixo, facilitam não apenas a identificação mas principalmente a criação de vínculos visuais com o público potencialmente consumidor.
Na correria das feiras e eventos, onde a quantidade de estímulos é grande, capturar a atenção do visitante é mais que um mero dever de ofício, é crucial para a sobrevivência de uma ideia. E como todos sabemos, cinco segundos após conhecer algo, uma montanha de novos estímulos estarão disputando a nossa atenção.

Palestras e bate papos com devs, abertos a todos os presentes, compõem um cenário essencial para criar aquilo que podemos chamar de cultura de produção. Não basta fazer o jogo, é preciso mostrá-lo ao mundo enquanto produto cultural. Compartilhar experiências reais de atuação, decepções, sucessos e tudo mais que cerca a atividade de criação de games. E nisso o Canal 3 Expo também acertou em cheio.

Além disso é crucial estreitar laços de camaradagem, de ambos os lados, com a imprensa especializada. Sem divulgação apropriada um game pode nem existir para o público em geral.
No final de dois intensos dias, sai do evento com uma certeza: quero mais no ano que vem.

Em tempo: rolou uma homenagem a este colunista, pelos seus 45 anos de dedicação à criação de games. Coisa só possível pra quem tem amigos queridos espalhados pelo Brasil afora. Mas a maior homenagem que recebi foi o compromisso do pessoal do Canal 3 de que, de agora em diante, todos os anos um game designer brasileiro, relevante no mercado, terá seu esforço merecidamente reconhecido. Pelo jeito, vai ter Canal 3 Expo até o ano 3 mil.
