Participar de eventos como BGS, Gamescom Latam, SBGames, BIG Festival, Retrocon ou qualquer encontro do setor pode parecer, à primeira vista, um luxo reservado a estúdios com verba de marketing, estandes bonitos e flyers coloridos. Mas, para quem está na base da pirâmide – o desenvolvedor indie brasileiro, aquele que muitas vezes é equipe de uma só pessoa — essa participação pode ser a diferença entre existir ou desaparecer no meio da névoa digital.

A real é que, se você quer que seu jogo seja visto, lembrado e levado a sério (por imprensa, público ou possíveis investidores), precisa sair do quarto e mostrar a cara. Só que isso custa tempo, energia e, principalmente dinheiro.

A pergunta que muitos indies se fazem, então, é: vale a pena? E a resposta, como tudo no Brasil, depende. Mas vamos por partes.

  • Visibilidade real em meio ao mar digital: com milhares de jogos lançados todo mês nas lojas virtuais, ninguém vai tropeçar no seu jogo por acaso. Estar presente em um evento aumenta exponencialmente suas chances de ser notado por players, jornalistas, streamers e até por aquela publisher que você stalkeia no LinkedIn.
  • Feedback imediato do público: ver as pessoas jogando seu game, reagindo a ele, comentando o que gostaram ou não, é uma das formas mais ricas de entender o que funciona (ou não). Isso vale mais que qualquer post genérico no Reddit.
  • Networking que não acontece no Discord: eventos permitem o contato direto com outros devs, investidores, professores, entusiastas e mentores. Muita parceria, contrato ou dica valiosa começa em uma conversa de corredor, não em uma call agendada.
  • Validação profissional: estar em um evento com estande, mesmo que pequeno, passa uma imagem de seriedade. Mostra que você está investindo no seu projeto e não apenas esperando que ele viralize sozinho.

Mas vamos ser realistas: participar de evento no Brasil não é barato. A seguir, alguns custos médios, levantados com indies que já participaram desses eventos, considerando que você é um pequeno estúdio ou desenvolvedor solo, vindo de fora da cidade do evento e tentando montar uma presença básica.

BIG Festival (São Paulo – junho/julho)

Inscrição de jogo: gratuita (para seleção, via edital próprio);
Estande básico para indie selecionado: gratuito, se aprovado;
Deslocamento + hospedagem + alimentação (5 dias): R$ 2.500 a R$ 4.000;
Material impresso, banner, brindes: R$ 500 a R$ 1.000;
Total estimado: R$ 3.000 a R$ 5.000;
Obs: Muito custo pode ser reduzido se conseguir apoio, carona, dividir Airbnb etc.

Brasil Game Show – BGS (São Paulo – outubro)

Estande indie (mínimo de 4m²): R$ 7.000 a R$ 10.000;
Inscrição para área indie gratuita: não existe — tudo é pago;
Deslocamento + hospedagem (5 dias): R$ 3.000 a R$ 5.000;
Decoração, impressos, setup de demo: R$ 1.000 a R$ 2.000;
Total estimado: R$ 10.000 a R$ 17.000;
A BGS é ótima para visibilidade de público, mas bem cara. O retorno é mais em exposição do que em negócios.

Gamescom Latam (São Paulo – julho)

Estande indie (modelo similar ao BIG): pode ser gratuito mediante seleção;
Custos operacionais semelhantes ao BIG;
Perfil mais voltado a negócios e imprensa, ainda se consolidando no Brasil;
Total estimado (se selecionado): R$ 3.000 a R$ 5.000;

SBGames (eventos itinerantes, geralmente em universidades)

Inscrição de artigo, game ou demo: R$ 200 a R$ 500 (estudante/profissional);
Hospedagem/viagem: R$ 1.500 a R$ 3.000;
Participação com apresentação ou demo jogável: valor incluso;
Público mais acadêmico, ótimo para pesquisa e validação conceitual;
Total estimado: R$ 2.000 a R$ 4.000;
Menos marketing, mais formação e discussão técnica.

Retrocon, RetroRio, RetroSC, MSXRio, Canal 3 Expo e similares (focados em retrocomputação e jogos clássicos)

Geralmente com entrada gratuita ou simbólica;
Custo baixo para expor (às vezes, basta levar seu setup e se inscrever);
Deslocamento + hospedagem (curta, 1 a 2 dias): R$ 500 a R$ 1.500;
Público muito específico, mas apaixonado;
Total estimado: R$ 500 a R$ 2.000;
Perfeitos para jogos retrô, homebrew e para fazer networking com devs old school.

Dicas de ouro para quem vai ou pretende ir:

  • Planeje com 3 a 6 meses de antecedência, inclusive com reservas e inscrição em editais;
  • Use camiseta com o nome do seu jogo e QR code. Simples, barato e eficaz;
  • Leve press kits digitais em pen drives, ou QR codes que apontam para um link;
  • Tenha uma build jogável e estável. Nada de versões bugadas que travam na primeira fase;
  • Fale com todo mundo. Cada conversa pode render uma dica valiosa ou uma matéria no portal certo.

Participar vale a pena?

Sim. Participar vale a pena, mas não como aposta cega. É preciso escolher com sabedoria, buscar apoio (alguns eventos têm editais, prêmios e bolsas), tentar dividir custos e, acima de tudo, ir com objetivo claro: divulgar, testar, negociar ou aprender.

Quem não aparece, não é lembrado. E hoje, mais do que nunca, ser lembrado vale mais que ter só um jogo bom. O mercado está lotado de jogos incríveis que nunca saíram da sombra por falta de visibilidade. Eventos são a vitrine que faltava.

Quer um conselho final?

Se não tiver dinheiro para um estande, vá como visitante. Leve seu celular com o jogo. Converse, teste, colete contatos. Em algum momento, você vai perceber que está sendo levado mais a sério. Porque quem se movimenta… acontece.

E em tempos onde o gamedev indie é tratado como sonho alternativo, estar presente nos eventos certos pode ser o código secreto para o próximo level.